Metodologia

Uma metodologia capaz de sustentar o encontro entre mundos. Uma grande imersão entre diversos. Distintas trajetórias de luta e de vida, visíveis e não-visíveis que produzem territórios de cuidados. 

Como garantir que a diversidade e inclusive as intersecções que nos fazem desiguais se cruzem resultando em cooperação, deslocamentos de privilégios e corresponsabilização?  

Com um arcabouço tecnopolítico que permita a vinculação desde a escuta profunda, entre distintas cosmovisões e regionalidades. Se tece o bordado delicado das dispostas a colaborar, a partir do reconhecimento de quem somos, para confluirmos.

LA Cuida - 235978526

Trabalho Coletivo

Nos grupos de trabalho de cada protótipo, colaboradoras e proponentes se dedicam à elaboração da proposta. Estes grupos se reuniram todos os dias durante toda a imersão. Estes momentos são autogestionados e se propõem ao desenvolvimento da proposta em si.

Mentoria

Referência tecno/política necessária à concretização de cada uma das proponências, protótipos e do próprio laboratório. Exercício de escuta e referencial para ampliar repertórios e apontar horizontes. Perfil necessário, que possa vivenciar o La.Cuida em sua integralidade, oferecendo escuta permanente, acompanhamento matricial para o enquadramento geral ao Lab, e portanto experiência no apoio à colaboração, além do manejo das práticas e debates de inovação política e cidadã, bem como conhecimento sobre a metodologia dos laboratórios e do próprio La.Cuida. Contribui para o ancoramento prático e político sobre a Economia de Cuidados, suas reais protagonistas, seu papel na manutenção da vida, sua demanda à reciprocidade e visibilidade, suas iniquidades em relação aos usos do tempo, apropriação do trabalho não pago, bem como a relação com divisão sexual, racial e internacional do trabalho.

Cuidadoria

A partir das necessidades apresentadas por cada iniciativa, a Cuidadoria reúne pessoas com perfis necessários à concretização dos protótipos, com demanda de permanência em tempo integral, atuação em matriciamento entre os projetos e ancoragem de saberes especializados, específicos e lacunares ao conjunto do Lab.

Assessoria (Borbullas)

La Cuida reúne uma rede de parceiras, formando uma gama muito fertil de saberes. As assessorias são contribuições pontuais, em diálogo com necessidades muito específicas de cada protótipo, que pretendem seja para fazer pontes, seja para desbloquear caminhos. As assessorias também vislumbram contribuições capazes de movimentar as redes e possibilidades de futuros de cada iniciativa, participando das articulações políticas envolvidas na iniciativa em que se envolvem..

Recorridos territoriais

Os recorridos territoriais são visitas para conhecer as experiências relevantes de redes de cuidado com praticas de economia de cuidados que articulam as cidades anfitriãs do LaCuida. O objetivo é articulação e intercâmbio entre os povos, assim, como o reconhecimento das experiências de impacto territorial e suas práticas potentes. Os recorridos também disparam o exercício da construção coletiva acerca da economia do cuidado na américa latina. Após o recorrido, acontece um espaço de socialização de experiências de cuidado e de diálogo sobre economia de cuidado desde as práticas territoriais na américa latina.  

*para os recorridos acontecem concomitantes em 3 territórios distintos. Os participantes são divididos de forma aleatória para a vivência e reúnem-se após a visita, para o intercâmbio de práticas..

Socialização de cuidados das crianças

Para que mulheres mães, dissidências e outras pessoas com filhos possam estar no La Cuida, ao longo de todos os dias acontece atividade para crianças. Um espaço seguro, com atividades culturais e brincadeiras, que garantem bem estar às crianças e segurança para as mães e põe em concretude a socialização de trabalho de cuidados.

Seminário de Articulação Política

Sabemos que territórios em seus cotidianos produzem tecnologias para a vida (re)existir e/ou tornar a vida vivível. Reinventam diariamente estratégias para superar a ausência/omissão do estado e políticas públicas para garantia de direitos básicos. 

Produzem para além do estado de forma autogestionada e em rede pela garantia do comum, defendem a vida de sua comunidade. Como parte do La Cuida desenvolvemos um espaço metodológico capaz de propiciar que as reais protagonistas desses processos possam construir pontes de diálogo e colaboração com organizações da sociedade civil e governos, dando o contorno a seus fazeres de tecnologias, possibilitando replicação, incidência em ambiente fértil para cocriação de políticas públicas. Uma espiral pedagógica transversal ao La Cuida, que se torna palpável durante o flertaço, passa pelo debate coletivo em pequenos grupos para o emergir questões que gerem grandes debates entre todas e também com referências na economia de cuidados em nosso continente, produzindo não apenas sínteses necessárias, mas incidência direta sobre a agenda da Economia de Cuidados. O pano de fundo desse processo chamamos de “subir e baixar direitos”.

Flertaço

Como aproximar pessoas, sonhos, idéias, protótipos, corpos em suas diversidades, entre si, mas também com poder público, governos, instituições, terceiro setor? Mundos próximos, codependentes e ao mesmo tempo, muitas vezes tão distantes? 

O método aqui se propõem a emaranhar, remover abismos, criar vínculos de articulação política. Pouco oportunizado a maioria dos perfis participantes deste laboratório e ao mesmo tempo pouco oportunizado para as próprias instituições um espaço comum de escuta e vínculo, mesmo que curto, onde o encontro pode transformar olhares e permitir articulações futuras. Um flerte, um coqueteo. Flertar é como um jogo onde o nível de interação dos protagonistas irá definir a evolução do flerte. Aqui demonstramos nosso interesse, compartilhamos nossos sonhos e miradas, escutamos diferentes. Articulação política começa no campo comum. 

Territórios em seus cotidianos produzem tecnologias para a vida (re)existir e/ou tornar a vida vivível. Reinventam diariamente estratégias para superar a ausência/omissão do estado e políticas públicas para garantia de direitos básicos. Abrem ruas, criam sistemas de distribuição de água, luz, esgoto… Mapeiam problemáticas territoriais, manejam redes de transporte, garantem que as crianças estejam escola, edificam a própria escola, distribuem alimentos, tramam economias, trocas, feiras…Produzem para além do estado de forma autogestionada e em rede pela garantia do comum, defendem a vida de sua comunidade de seus territórios. Lograr que o que é produzido nesse contexto seja política e que suas tecnologias possam ser replicadas, reconhecer suas reais protagonistas e construir pontes de diálogo e colaboração entre governos é o que o método aqui se propõe.

Sendero de Cuidado

O sendero é o eixo central para a metodologia da reciprocidade. Um dispositivo de escuta, ativação de práticas populares de cuidado, reverberação dos saberes ancestrais e retomada da memória das reais protagonistas, as mulheres plurais que ofereceram seu tempo, energia e conhecimento para o cuidar. Alguns pilares do sendero são:

  • horizontalidade de saberes e fazeres - composta por pessoas que sustentam diferentes cosmovisões, diferentes práticas de cuidado e saúde, rompe com a ideia da hierarquização e especialidades na saúde - equipe multisaberes (mestras + profissionais de práticas integrativas + profissionais de saúde).
  •  honraria as sustentadoras dos cuidados - mestras e mestres das culturas de cuidado - que tenham como referência e regência as sabedoras e sabedores tradicionais. Para tal, os senderos são batizados e nomeados, ancorando a memória das mestras e está centrado no protagonismo das mestras.
  •  compreensão do La Cuida como território de cuidado - o sendero não se limita a algum espaço demarcado, apesar de oferecer um espaço com contorno para acolher individualidades de maneira qualificada, consideramos que ele está em tudo e pode acontecer por qualquer pessoa em qualquer lugar de forma autogestionada.
  • defesa do cuidado como promotor de bem viver - promover o debate que qualifique e inverta a lógica sobre cuidado X saúde, sobre práticas de bem viver X práticas de bem estar elitizadas e posicionar o cuidado também como político e coletivo. Se pretende a ser um espaço fundamentalmente de acolhimento, escuta, de experimentar e ofertar diferentes saberes e cuidados, com base na ativação da nossa inteligência coletiva, produzindo juntas sobre o cuidado e a economia do cuidado desde as nossas práticas territoriais. Se diferencia qualitativamente do atendimento do posto de saúde, principalmente na lida com as comunidades afrodescendentes, indígenas e periféricas.
  • autonomia em cuidado - visa estabelecer postura ativa versus a postura passiva de quem está recebendo cuidado, em relação ao seu próprio cuidado e na compreensão de si mesmo e do seu próprio corpo, com autonomia.
  • Fortalecimento e articulação em rede com os equipamentos de saúde e cuidado locais - se propõe a construção de diálogos e busca articulações prévias com equipes de saúde e cuidado locais e seus dispositivos, como por exemplo, ambulância disponível, policlínicas, medicamentos, testes, às vezes, vacinas…) - ou acesso a equipes em residência profissional em saúde, atendimentos universitários, terreiros e outras formas de cuidar já estabelecidas culturalmente. Prever também, possíveis acompanhantes para caso de transferência e urgências de saúde.
  • transversal e autogestionado - espaço para debates, encontros e trocas de experiências entre mestras, autoformação e ensinamentos. Um espaço embrionário para atividades autogestionadas em cuidados que reverbera para o restante do lab.

 

A compreensão dos povos originários eleva o aquilombamento e os afetos como ferramentas de resistência e promoção do cuidado e até mesmo da saúde. Dessa forma, o cuidado é terra fértil quando cultivado em coletividade. Seja na garantia de um espaço para cuidar de quem cuida ou na construção com as atividades autogestionadas, a autogestão é potência e fluidez para semear de forma solidária. 

Cada participante com disposição para partilhar seu cuidado no cotidiano e nos territórios, encontra acolhimento e pauta a programação com o repartir das suas experiências, produções, práticas e debates. Germinaram rodas de conversa, atendimentos e oficinas com estímulo para reflexões, trocas e aprendizagens. Alguns exemplos foram: oficina de cultura do funk nas periferias brasileiras, debate sobre a luta pelos direitos das pessoas trans, as estratégias feministas de negociação, o planejamento de projetos, os debates sobre feminismos, sexualidade, gênero e raça, tranças afro, parteria com mestras tradicionais indígenas, ritualização da cultura do viche, oficina de candombe uruguaio e um olhar abrangente para a saúde através praticas de diferentes cosmovisões.

As encruzilhadas do sendero potencializaram os cuidados por centenas de acolhimentos:

  • demandas físicas (52,5%);
  • demandas emocionais (29,7%);
  • demandas sociopolíticas (13,6%);
  • demandas espirituais (2,5%);
  • emergências e encaminhamentos para serviços de saúde (1,7%).

 

As principais terapêuticas utilizadas foram massoterapia, acupuntura, aromaterapia, escuta, utilização de ervas, defumação, maceração e chás, reike, reflexologia, visualização terapêutica e respiração, atendimentos oraculares, yoga, danças circulares, auriculoterapia, curativos e atendimentos naturais de saber ancestral.

O cuidado permite a transformação dos significados de cada espaço, pode envolver o acolhimento, a criação de vínculos, a articulação política, o fortalecimento de experiências, assim como também pode permear o enraizamento de sentidos e existências.

Direcionado a todas as pessoas que estarão no Lab, o Formulário de Cuidados recolhe de forma individual, informações importantes sobre dados de saúde e as necessidades especiais de cada pessoa. Eles são utilizados para pensar na especificidade de cuidados e também para elaboração prévia de possíveis encaminhamentos emergenciais.